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domingo, 11 de agosto de 2024

Feliz Dia dos Pais

Neste Dia dos Pais, deixemos que o mate amargo seja testemunha da nossa gratidão. Que o vento minuano, que varre os campos e penteia as coxilhas, leve nossas palavras de amor aos que sempre nos guiaram, como o gaúcho guia o cavalo pelas planícies sem fim.

Pai, és o alicerce firme, como a terra vermelha que sustenta as raízes mais profundas. És a mão calejada que, mesmo no silêncio, nos ensina a ser fortes diante das tempestades da vida. És o olhar atento, que, mesmo distante, nos acompanha como o horizonte sempre presente.

Neste dia, que a tua coragem seja lembrada, e que o teu coração seja aquecido pelo carinho de quem te ama. Que o sol que nasce no pampa ilumine teu caminho, e que o assobio do vento te traga a certeza de que és querido, admirado e sempre presente em nossos corações.

Pai, és a própria definição de força e ternura, e, por isso, és eterno. Que neste dia, e em todos os outros, possas sentir o abraço sincero de quem te tem como exemplo maior. Feliz Dia dos Pais!

quinta-feira, 1 de março de 2018

Resultados dos festivais de Fevereiro



Buenas gauchada, chegando o resultado dos festivais de fevereiro, a primeira postagem do retorno das merecidas férias, confira o que tivemos:



4º Esteio da Poesia - Esteio/RS

Realizado sábado, 24/02,  na cidade de Esteio/RS. Confira os vencedores:

POEMAS
1º Lugar: TUDO QUE HAVIA DE BUENO
Autor: Rodrigo Bauer
Declamador: Pedro Junior da Fontoura
Amadrinhador: Geraldo Trindade

2º Lugar: DUELO DE DON BLANCO
Autor: Danilo Kuhn
Declamador: Silvana Giovanini
Amadrinhador: Danil Kuhn

3º Lugar: AGUACEIRO
Autor: Marcelo Dávila
Declamador: Silvana Andrade
Amadrinhador: Jadir Oliveira Filho e Dhouglas Umabel

DECLAMADORES:
1º Lugar: LILIANA CARDOSO
Poema: O Dono de Mim (Carlos Omar Villela Gomes)

2º Lugar: SILVANA ANDRADE
Poema: Aguaceiro (Marcelo Dávila)

3º Lugar: SILVANA GIOVANINI
Poema: O Duelo de Don Blanco (Danilo Kuhn)

AMADRINHADORES
1º Lugar: DANILO KUHN
Poema: O Duelo de Dom Blanco (Danilo Kuhn)

2º Lugar: HENRIQUE SCHOLZ
Poema: Tudo que Havia de Bueno (Rodrigo Bauer)

3º Lugar: JADIR OLIVEIRA FILHO/DHOUGLAS UMABEL
Poema: Aguaceiro (Marcelo Dávila)

MELHOR TRABALHO EM PALCO:
Poema: O DUELO DE DON BLANCO
Autor: Danilo Kuhn
Declamadora: Silvana Giovanini
Amadrinhador: Danilo Kuhn

9º Canto do Jacaquá - São Franscisco de Assis/RS

Aconteceu nos dias 1,2 e 3, confira os vencedores:

MÚSICA DO TEMA

1º LUGAR
PRA RENASCER EM POESIA – MILONGA
Letra: Claudionir Bastos / Nei Menezes
Música: Nei Menezes / Solon Zacaras
Intérprete: Nei Menezes

2º LUGAR
RENASCENDO EM CADA DIA
Letra: Flávio Saldanha
Música: Nilton Ferreira
Intérprete: Nilton Ferreira

3º LUGAR
DE UMA SAFRA QUE NÃO FINDA
Letra: Anderson Mireski
Música: Anderson Mireski / Otavio Machado
Intérprete: Erika Benevenute

MELHOR LETRA (TROFÉU JOÃO ARI FERREIRA - SICHA)
POR RENASCER – TOADA
Letra: Rômulo Chaves
Música: Miguel Marques
Intérprete: Emerson Martins

MÚSICA MAIS POPULAR
TROCANDO DE SOBRANCELHAS – VANEIRA
Letra: Galdemir Silva
Música: Delci Taborda / Jairton Nunes
Intérprete: Galdenir Silva

MÚSICA TEMA LIVRE

1º LUGAR
O INVENTÁRIO DAS LATAS – MILONGA
Letra: Hilo Paim / Nilton Ferreira
Música: Delci Taborda
Intérprete: Nilton Ferreira

2º LUGAR
DE SENTIMENTO E DE RIO – MILONGA
Letra: Gederson Fernades / Galdenir Silva
Música: Felipe Goulart
Intérprete: João Carlos Silva / Marcelo Antunes

3º LUGAR
ENTARDECER EM SANTO IZIDRO – CHAMAMÉ
Letra: João Ari Ferreira (in memorian)
Música: Otavio Machado
Intérprete: Erika Benevenute

POESIA

1º LUGAR
DUELO CAMPEIRO
Autor: Arlindo Almeida Júnior
Declamador: Flávio Marotte
2º LUGAR
QUANDO O VERSO GANHA ASAS
Autor: Carlinhos Lima
Declamador: Franco Ferreira

3º LUGAR
MEU VERSO
Autor: Ibani Jorge Bicca
Declamador: Ibani Jorge Bicca

Fonte: rondadosfestivais.blogspot.com

domingo, 5 de novembro de 2017

Momento da Poesia Gaúcha - Chimarrão

Buenas entreverados deste pago virtual, hoje na nossa seção de poesia do blog, trago uma poesia marcante para mim e para muito talvez, pois, esta poesia de Glaucus Saraiva vem desde muito tempo estampada em térmicas de muitos mates do rincão e muitas vezes como tema de fundo em propagandas de erva mate, e isso marcou a minha infância e hoje neste domingão de começo de novembro o blog traz a todos a poesia Chimarrão de Glaucus Saraiva.


Chimarrão

Amargo doce que eu sorvo
Num beijo em lábios de prata.
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno.
E a cuia, seio moreno,
Que passa de mão em mão
Traduz, no meu chimarrão,
Em sua simplicidade,
A velha hospitalidade
Da gente do meu rincão.

Trazes à minha lembrança, 
Neste teu sabor selvagem, 
A mística beberagem, 
Do feiticeiro charrua, 
E o perfil da lança nua, 
Encravada na coxilha,
Apontando firme a trilha, 
Por onde rolou a história, 
Empoeirada de glórias, 
De tradição farroupilha.

Em teus últimos arrancos, 
Ao ronco do teu findar, 
Ouço um potro a corcovear, 
Na imensidão deste pampa, 
E em minha mente se estampa, 
Reboando nos confins , 
A voz febril dos clarins, 
Repinicando: "Avançar"!
E então eu fico a pensar, 
Apertando o lábio, assim, 
Que o amargo está no fim, 
E a seiva forte que eu sinto, 
É o sangue de trinta e cinco, 
Que volta verde pra mim.

Glaucus Saraiva

Veja outras em:

sábado, 13 de agosto de 2016

Momento da Poesia Gaúcha - Romance do Injustiçado



Hoje o blog traz a poesia de Aparício Silva Rillo, um dos mestres gaúchos da poesia.

Romance do Injustiçado 

Como talhado em pau-ferro, 
o carão de traços duros,
o bigodão mal cuidado
desabando sobre os lábios;
par de asas mui cansadas
de um avejão de cor negra.
Melena de muitos meses,
sobrando por sobre a gola
e o colorado de um lenço,
sangrando em riba do peito.

A bombacha de dois panos,
remangada sobre a bota. 
Os cravos da espora grande
mordendo a franja do pala,
bem atirado pra trás.
No fivelão da guaiaca,
luzindo em campo de prata,
o louro das iniciais.

Sobrando da faixa negra
que lhe abarcava a cintura,
o cabo entalhado em chifre 
da xerenga de dois palmos.
Um relho, trança de oito,
vinha arrastando a açoiteira
dependurado no pulso
pelo tento do fiel.

Pela rédea, o azulego, 
se via que flor de flete
malgrado a estampa judiada 
de pingo que muito andou.
Foi assim que há muitos anos 
bateu nas casas da estância
o celebrado bandido
chamado “Estácio Arijo”.

Bandido para a justiça,
por seu respeito se explique,
que as razões de um índio macho 
nem sempre são bem aceitas 
pelos códigos e leis.

Bandido por ter sangrado,
igual de raiva e de armas
a um cujo que desonrara 
a mais moça das irmãs.

Bandido, porque apertado 
entre as brigadas e a enchente, 
já não podendo escapar 
por debaixo da fumaça, 
matou um dos quatro praças 
que lo quiseram carnear.

Bandido, porque seguido 
por milicadas sequiosas 
de uma vingança total, 
fugiu da estrada real 
para o mais fundo dos matos,
carneando chibos alheios 
para o churrasco sem sal.

Bandido, porque enleado 
na rudez da ignorância, 
fez da fuga e da distância 
seu modo de mal viver; 
porque quis a sina ingrata, 
que nunca tivesse plata 
para pagar um bacharel.

Bandido, porque não teve, 
a exemplo de tanta gente, 
cancha livre, costas quentes, 
à sombra de um coronel.

E assim viveu como bicho, 
pelos fundões das fazendas, 
a carregar a legenda 
de perigoso e assassino, 
ximbo, bagual, teatino, 
com fama de touro alçado, 
tragando o duro guisado 
que lhe picava o destino.

N’algum bolicho de estrada 
boleava a perna cestroso,
pelos domingos de tarde.
Para um cantil de cachaça, 
meio quilo de bolacha 
mais um punhado de sal.

Olhava de olhos compridos 
para o mais das prateleiras, 
pra um bom fumo amarelinho, 
pros maços de palha buena, 
para a erva de palmeira, 
num saco sobre o balcão.
Mas vinha curto seu cobre, 
mal e mal traz precisão; 
o bolicheiro era pobre, 
e ele não era ladrão.

E a polícia no seu rastro, 
malgrado o tempo passado, 
perseguido e acuado 
por plainos e socavões, 
sempre mudando de pouso 
pra confundir os milicos, 
que em manhas sim, era rico, 
por evidentes razões.

Cansou-se um dia, afinal, 
daquela vida de bicho, 
daquele estranho cambicho 
com as más volteadas da sorte,
de não ter rumo nem norte, 
não ter descanso ou sossego. 

E assim bateu cá na estância, 
naquele entono de taita 
que manda parar a gaita 
por ter cansado do baile. 
E ao patrão, velho Boerana, 
pediu Estácio Arijo 
que mandasse algum chirú
levar ao povo um recado:
que viesse o delegado, 
que ele afinal resolvera: 
ele, o bandido; ele, o maula, 
trocar o largo dos campos
pelo encolhido das jaulas.

Nas suas noites de insônia, 
entre um pelego e as estrelas, 
conseguira convencer-se 
que, sendo justa, a justiça 
lhe entenderia as razões 
e lhe daria, a lo muito,
poucos anos de condena 
ou mesmo absolvição.

Foi então, que a meia tarde,
num fordecão atochado, 
deu na estância o delegado 
com quatro praças por quebra 
para formar o sarilho: 
quatro fuzis embalados, 
quatro dedos no gatilho.

Então ... Estácio Arijo
tomou seu último mate, 
no mesmo entono de guapo
que era seu jeito de sempre,
arrastou a espora grande 
na direção dos milicos.

- Nem mais um passo! 
gritou-lhe num gritinho de falsete, 
o delegado, um joguete 
nas mãos do chefe local.
- Levante as mãos! 
- Largue as armas! 
- Esteje preso, seu bandido, 
seu metedor de pendenga!

E o Arijo, decidido 
a entregar-se sem briga,
levou a mão à barriga 
para descartar a xerenga.

- Cuidado! Berrou um praça.
Tremeram cinco covardes; 
e na calma desta tarde 
berraram quatro fuzis, 
quatro sóis de fumo e sangue 
se lhe acenderam no peito.

Foi desabando aos pouquitos 
de frente para os milicos, 
no jeito de um velho angico 
caído junto às macegas 
que lhe envejavam o entono.

E já quase adormecendo 
para o derradeiro sono, 
quatro vezes mal ferido, 
teve ainda tino e ouvido 
para escutar um dos cinco 
que lhe gritava:
- Bandido!

Caiu ... 
olhando pro céu, 
tinto de sangue e de luz.
Dava-lhe o sol pela frente, 
como a incendiar-lhe a figura, 
a mais rica das molduras 
para enquadrar um valente !

sábado, 20 de junho de 2015

Momento da Poesia Gaúcha - Cantador

Mais uma poesia de autoria própria, inspirada nos títulos das músicas de Luiz Marenco

Cantador

Faço verso pra o meu consumo
E pra cultivar a tradição
Esse e meu destino de peão
Que na minha charla de domador
Demonstra o meu interior
Minha origem de sangue pampa
que não nego minha estampa
Na poeira do corredor

Seguindo minha trajetória
Aqui bem pro sul
Contemplo o céu azul
Na imensidão do meu pago
E junto comigo eu trago
O sentimento do fundo de campo
Demonstro todo o meu canto
Nesta milonga do campo largo

Milonga que tem alma pampa
Num perfil de estrada e tempo
Evocando palavra nos "tento"
Pois no meu peito tem um rincão
E vou firmando o garrão
Meio andarilho ao trancaço
Trazendo o verso em cima do laço
Pra quem tem alma de galpão

E de volta de uma tropeada
Quando a alma volta pra terra
Ergo minha bandeira de guerra
Deixando de lado o recuerdo posteiro
Sigo a lida de campeiro pra campeiro
Extraviado nas estâncias da fronteira
Domando, pra apear na porteira
Com meu pingo companheiro

Esta e minha vida de peão
De um fronteiro de alma e pampa
Que em outro pago se agranda
Aguentando o tirão trago meu relato
Quebrando os silêncios das janelas do povoado
No meu rancho aqui na cidade
Pra contrariar a quietude
Da minha alma e de meu sangue maragato

Da alma branca dos que tem saudade
Ao andarilho campesino cantador
Todo gaudério tem um sonho em flor
De bota e bombacha assim no mas
A filosofia de andejo se faz
Com os destinos ja traçados
De a cavalo fulanos e sicranos
Vão sovando um pelego em busca da paz

Por: Rodrigo Silva

sábado, 3 de janeiro de 2015

Retrospectiva Blog - 10 mais acessadas.

Buenas indiada, hoje tem a retrospectiva das postagens mais acessadas de 2014, confiram e leiam, pois, o link está no titulo da mesma. Notem que na 10° e 9° posição houve um empate.

10° - Onde estão os verdadeiros gaúchos? Um artigo sobre como esta sendo tratada a tradição hoje em dia.

10° - O Reino da Demagogia - Um artigo, que foi mais um desabafo com a falta de carater do povo.

9° - A seção Retratos do Rio Grande - Mostro fotos do interior de Caxias do Sul.

9° - Mais uma de Retratos do Rio Grande - Fotos da area externa da Arena do Grêmio.

9° - Agenda de Rodeios de Abril/Maio - O povo estava afim de ir pro rodeio.

8° - Agenda de Rodeios de Junho - Mais rodeio.

7° - Batalha dos Porongos - 170 anos - Onde reproduzi um texto do Jornal Diário Popular de Pelotas que conta um pouco o que aconteceu.

6° - Festchê na Festa da Uva - Onde trouxe as atrações do Festchê 2014 em Caxias do Sul.

5° - A seção Momento da Poesia Gaúcha - Onde trouxe um poesia de autoria própria.

4° -  26° Rodeio Nacional de Caxias do Sul - A programação do Rodeio.

3° - Outra seção do Blog Uma Breve Charla, Caxias e os Imigrantes - Seção onde falo das coisas do cotidiano na cidade e no Rio Grande, onde expresso a opinião do blog.

2° - Jairo Lambari Fernandes encerra sua carreira - Quando surgiu o boato coloquei uma seleção de músicas.

Desenhos do Artista Vasco Machado - Foi o campeão, onde em uma campereada da internet encontrei o site dele e o mesmo autorizou a coloca-los no blog.

Mil gracias amigos e acompanhem o blog em 2015.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Momento da Poesia Gaúcha - Ave Maria do Peão

Mais uma para o meu Rio Grande.

Ave Maria do Peão


Odilon Ramos


Ao reponte do sol que descamba
no dia se aprochega para o arremate
pelos campos e nos matos da querência
no revoar da bicharada voltando ao ninho
é hora de recolhimento

No rancho que há no interior
de mim mesmo
eu, gaúcho de fé
me arrincono e medito

Despindo o poncho da vaidade
e do orgulho
tiro o chapéu, apago o pito
e me achego pra uma prosa
com o patrão maior

Na sua presença 
meu sangue quente de farrapo
se faz manso caudal
entrego-lhe minha alma
afoita de alcançar lonjuras
e abrir cancha 
em busca do destino
renuncio à minha xucra rebeldia
me faço doce de volta 
e macio de tranco
para dizer-lhe

Gracias patrão
por tudo que me deste
por esta querência Senhor
que meus ancestrais regaram
com seu sangue
e que aprendi a amar desde piá

Pelos meus parceiros 
nessa ronda da vida
sempre de prontidão para
me amadrinharem na 
campereada mais custosa
ou para matearem comigo
na hora do sossego

Reparte com eles, patrão
esta fé que me deste
e este orgulho pela minha
querência

Ajuda patrão
a manter acessa esta chama
concede sempre ao gaúcho
a força no braço
e o tino pra saber o que
é correto

Dá-nos consciência
para preservar a nossa cultura
livre da invasão dos modismos
conserva a essência e a beleza
da nossa tradição

E agora, com licença patrão
que vou aproveitar a olada
para um dedo de prosa com 
Nossa Senhora

Ave Maria
primeira prenda do céu
contigo está o Senhor,
na estância maior 
tu és bendita entre todas
as prendas
e bendito é o piá que 
trouxeste ao mundo, Jesus

Maria, mãe de Deus
E mãe de todos nós
roga pela querência
e pelos gaudérios 
que aqui moram
nesta hora e no instante
da última cavalgada

Amém 



sábado, 15 de março de 2014

Momento da Poesia Gaúcha - Romance do Injustiçado

O momento da poesia de Fevereiro traz Aparício Silva Rillo, com o:

Romance do Injustiçado  


Como talhado em pau-ferro, 
o carão de traços duros,
o bigodão mal cuidado
desabando sobre os lábios;
par de asas mui cansadas
de um avejão de cor negra.
Melena de muitos meses,
sobrando por sobre a gola
e o colorado de um lenço,
sangrando em riba do peito.

A bombacha de dois panos,
remangada sobre a bota. 
Os cravos da espora grande
mordendo a franja do pala,
bem atirado pra trás.
No fivelão da guaiaca,
luzindo em campo de prata,
o louro das iniciais.

Sobrando da faixa negra
que lhe abarcava a cintura,
o cabo entalhado em chifre 
da xerenga de dois palmos.
Um relho, trança de oito,
vinha arrastando a açoiteira
dependurado no pulso
pelo tento do fiel.

Pela rédea, o azulego, 
se via que flor de flete
malgrado a estampa judiada 
de pingo que muito andou.
Foi assim que há muitos anos 
bateu nas casas da estância
o celebrado bandido
chamado “Estácio Arijo”.

Bandido
para a justiça,
por seu respeito se explique,
que as razões de um índio macho 
nem sempre são bem aceitas 
pelos códigos e leis.

Bandido
por ter sangrado,
igual de raiva e de armas
a um cujo que desonrara 
a mais moça das irmãs.

Bandido, 
porque apertado 
entre as brigadas e a enchente, 
já não podendo escapar 
por debaixo da fumaça, 
matou um dos quatro praças 
que lo quiseram carnear.

Bandido, 
porque seguido 
por milicadas sequiosas 
de uma vingança total, 
fugiu da estrada real 
para o mais fundo dos matos,
carneando chibos alheios 
para o churrasco sem sal.

Bandido, 
porque enleado 
na rudez da ignorância, 
fez da fuga e da distância 
seu modo de mal viver; 
porque quis a sina ingrata, 
que nunca tivesse plata 
para pagar um bacharel.

Bandido, 
porque não teve, 
a exemplo de tanta gente, 
cancha livre, costas quentes, 
à sombra de um coronel.

E assim viveu como bicho, 
pelos fundões das fazendas, 
a carregar a legenda 
de perigoso e assassino, 
ximbo, bagual, teatino, 
com fama de touro alçado, 
tragando o duro guisado 
que lhe picava o destino.

N’algum bolicho de estrada 
boleava a perna cestroso,
pelos domingos de tarde.
Para um cantil de cachaça, 
meio quilo de bolacha 
mais um punhado de sal.

Olhava de olhos compridos 
para o mais das prateleiras, 
pra um bom fumo amarelinho, 
pros maços de palha buena, 
para a erva de palmeira, 
num saco sobre o balcão.
Mas vinha curto seu cobre, 
mal e mal traz precisão; 
o bolicheiro era pobre, 
e ele não era ladrão.

E a polícia no seu rastro, 
malgrado o tempo passado, 
perseguido e acuado 
por plainos e socavões, 
sempre mudando de pouso 
pra confundir os milicos, 
que em manhas sim, era rico, 
por evidentes razões.

Cansou-se um dia, afinal, 
daquela vida de bicho, 
daquele estranho cambicho 
com as más volteadas da sorte,
de não ter rumo nem norte, 
não ter descanso ou sossego. 

E assim bateu cá na estância, 
naquele entono de taita 
que manda parar a gaita 
por ter cansado do baile. 
E ao patrão, velho Boerana, 
pediu Estácio Arijo 
que mandasse algum chirú
levar ao povo um recado:
que viesse o delegado, 
que ele afinal resolvera: 
ele, o bandido; ele, o maula, 
trocar o largo dos campos
pelo encolhido das jaulas.

Nas suas noites de insônia, 
entre um pelego e as estrelas, 
conseguira convencer-se 
que, sendo justa, a justiça 
lhe entenderia as razões 
e lhe daria, a lo muito,
poucos anos de condena 
ou mesmo absolvição.

Foi então, que a meia tarde,
num fordecão atochado, 
deu na estância o delegado 
com quatro praças por quebra 
para formar o sarilho: 

quatro fuzis embalados, 
quatro dedos no gatilho.

Então ... Estácio Arijo
tomou seu último mate, 
no mesmo entono de guapo
que era seu jeito de sempre,
arrastou a espora grande 
na direção dos milicos.

- Nem mais um passo! 
gritou-lhe num gritinho de falsete, 
o delegado, um joguete 
nas mãos do chefe local.
- Levante as mãos! 
- Largue as armas! 
- Esteje preso, seu bandido, 
seu metedor de pendenga!

E o Arijo, decidido 
a entregar-se sem briga,
levou a mão à barriga 
para descartar a xerenga.

- Cuidado! Berrou um praça.
Tremeram cinco covardes; 
e na calma desta tarde 
berraram quatro fuzis, 
quatro sóis de fumo e sangue 
se lhe acenderam no peito.

Foi desabando aos pouquitos 
de frente para os milicos, 
no jeito de um velho angico 
caído junto às macegas 
que lhe envejavam o entono.

E já quase adormecendo 
para o derradeiro sono, 
quatro vezes mal ferido, 
teve ainda tino e ouvido 
para escutar um dos cinco 
que lhe gritava:
- Bandido!

Caiu ... 
olhando pro céu, 
tinto de sangue e de luz.
Dava-lhe o sol pela frente, 
como a incendiar-lhe a figura, 
a mais rica das molduras 
para enquadrar um valente !

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Momento da Poesia Gaúcha - Que diacho eu gostava de meu cusco

Mais um Momento da poesia com Alcy José de Vargas Cheuiche

Que diacho! Eu gostava do meu cusco

Entendo. Envelheci entendendo.
Bicho não tem alma, eu sei bem,
mas será que vivente tem?

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Era uma guaipeca amarelo,
baixinho, de perna torta,
que me seguiu num domingo,
de volta de umas carreira.

Eu andava meio abichornado,
bebendo mais que o costume,
essas coisa de rabicho, de ciúme,
vocês me entendem, ele entendeu.

Passei o dia bebendo
e ele ali no costado
me olhando de atravessado,
esperando por comida.

Nesse tempo era magrinho
que aparecia as costela.
Depois pegou mais estado
mas nunca foi de engordá.

Quando veio meu guisado,
dei quase tudo prá ele.
Um pouco, por pena dele,
e outro, que nesse dia,
só bebida eu engolia
por causa dos pensamento.

Já pela entrada do sol,
ainda pensando na moça
e nas miséria da vida,
toquei de volta prás casa
e vi que o cusco magrinho
vinha troteando pertinho,
com um jeito encabulado.

Volta prá casa, guaipeca!
Ralhei e ralhei com ele.
Parava um puco, fugia,
farejava qualquer coisa,
depois voltava prá mim.
O capataz não gostou,
na estância só tinha galgo,
mas o guaipeca ficou.

Botei o nome de sorro,
as crianças, de brinquinho,
mas o nome que pegou
foi de guaipeca amarelo.

Mas nome não é o que importa.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Ficou seis anos na estância.
Lidava com gado e ovelha
sempre atento e voluntário.
Se um boi ganhava no mato,
o guaipeca só voltava
depois de tirá prá fora.

E nunca mordeu ninguém!
Nem as índia da cozinha
que inticava com ele.
Nem ovelha, nem galinha,
nem quero-quero, avestruz.
Com lagarto, era o primeiro
e mesmo piquininho
corria mais do que um pardo.

E tudo ia tão bem...
Até que um dia azarado
o patrãozinho noivou
e trouxe a noiva prá estância.

Era no mês de janeiro,
os patrão tava na praia,
e veio um mundo de gente,
tudo em roupa diferente,
até colar, home usava,
e as moça meio pelada,
sem sê na hora do banho,
imagino lá no arroio,
o retoço da moçada.

Mas bueno, sou doutro tempo,
das trança e saia rodada,
até aí não tem nada,
que a gente respeita os branco,
olha e finge que não vê.
O pior foi o meu cusco,
que não entendeu, por bicho,
a distância que separa
um guaipeca de peão
da cachorrinha mimosa
da noiva do meu patrão.

Era quase de brinquedo
a cachorrinha da moça.
Baixinha, reboladera,
pêlo comprido e tratado,
andava só na coleira
e tinha medo de tudo,
por qualquer coisa acoava.

Meu cusco perdeu o entono
quando viu a cachorrinha.
E les juro que a bichinha
também gostou do meu baio.
Mas namoro, só de longe
que a cusca era mais cuidada
que touro de exposição.

Mas numa noite de lua,
foi mais forte a natureza.
A cadela tava alçada
e o guaipeca atrás dela
entrou por uma janela
e foi uma gritaria
quando encontraram os dois.

Achei graça na aventura,
até que chegou o mocito,
o filho do meu patrão,
e disse prá o Vitalício
que tinha fama de ruim:
Benefecia o guaipeca
prá que respeite as família!
Parecia até uma filha
que o cusco tinha abusado.

Perdão, le disse, o coitado
não entende dessas coisa.
Deixe qu'eu leve prá o posto
do fundo, com meu cumpadre,
depois que passá o verão.
Capa o cusco, Vitalício!
E tu, pega os teus pertence
e vai buscá teu cavalo.

Me deu uma raiva por dentro
de sê assim despachado
por um piazito mijado
e ainda usando colar.
Mas prometi aqui prá dentro:
mesmo filho do patrão,
no meu cusco ninguém toca.
Pego ele, vou m'embora
e acabou-se a função.

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Campiei ele no galpão,
nos brete, pelas mangueira
e nada do desgraçado.
No fim, já meio cansado,
peguei o ruano velho
e fui buscá o meu cavalo.

Com o tordilho por diante,
vinha pensando na vida.
Posso entrá numa comparsa,
mesmo no fim das esquila.
Depois ajeito os apero
e busco colocação,
nem que seja de caseiro,
se nã me ajustam de peão.
E levo o cusco comigo
pois foi o único amigo
que nunca negou a mão.

Nisso, ouvi a gritaria
e os ganido do meu cusco
que era um grito de susto,
de medo, um grito de horror.
Toquei a espora no ruano
mas era tarde demais.
Tinham feito a judiaria
e o pobrezinho sangrava,
sangrava de fazê poça
e já chorava fraquinho.

Peguei o cusco no colo
e apertei o coração.
O sangue tava fugindo,
não tinha mais esperança.
O cusco foi se finando
e os meus olho chorando,
chorando como criança.

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?
Nessa hora desgraçada
o tal mocito voltou
prá sabê pelo serviço.
Botei o cusco no chão,
passei a mão no facão
e dei uns grito com ele,
com ele e com o Vitalício!

Ele puxô do revólver
mas tava perto demais.
Antes que a bala saísse,
cortei ele prá matá.
Foi assim, bem direitinho.
Não tô aqui prá menti.
É verdade qu'eu fugi
mas depois me apresentei.
Me julgaram e condenaram
mas o pior que assassino,
foi dizerem que o motivo
era pouco prá o que fiz...

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem? 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Momento da Poesia Gaúcha - Retorno Bravo

Esta é uma das melhores de todas.
Retorno Bravo
Ubirajara Raffo Constant

Ali na porta do rancho, junto ao cusquito nervoso,
o velho guasca orgulhoso olhava o filho partir.
Também desejava ir com a mesma disposição,
levando a lança na mão, p'ra se unir aos farroupilhas
e pelear pelas coxilhas em defesa do rincão.

Porém já velho e arquejado perdera a força no braço,
tinha no lombo o cansaço do peso de muitos anos,
mas era um dos veteranos com orgulho do passado,
por ter a lança empunhado combatendo os castelhanos.

Que gana tinha de ir, aquele velho guerreiro,
de novo para o entrevero como gaúcho pelear,
mas ficava a se orgulhar que embora velho e cansado
tinha um filho ja criado partindo no seu lugar.

E ali na porta do rancho, cheio de orgulho e pesar,
viu o filho se afastar com garbo e disposição,
montando um flor de alazão, o laço preso nos tentos,
o poncho revoando ao vento e a lança firme na mão.

Depois, com a estrada deserta, a noite foi se chegando,
o pampa foi silenciando nas grotas e nos banhados
e o velho guasca cansado no catre foi se arrimando,
em silêncio memoriando entreveros do passado.

Assim, a poeira dos dias cobriu o catre vazio
do paisano que partiu do rancho para a guerrilha,
levando na alma caudilha de guasca continentino,
a fibra, a glória e o tino de campeador farroupilha.

Já muitos dias depois um xirú trouxe a notícia:
- A farroupilha milícia em que seu filho marchou
peleando se dizimou. Morreram mas não recuaram
e entre os bravos que tombaram dizem que o moço ficou.

Num sentimento profundo o velho ficou calado,
mas o seu rosto enrugado não pode a dor esconder,
deixando livre correr, do fundo da alma ferida,
uma lágrima sentida que ele não pode conter.

Tristonha caiu a noite e mais triste a madrugada.
Latia ao longe a cuscada, na quincha gemia o vento,
e sem dormir um momento, ali no catre estirado,
o velho ficou atado na soga do pensamento.

Lembrou o filho em criança
correndo o pampa em retoço,
a melena em alvoroço soprada ao vento pampeano.
Recordou ano por ano até que o piá ficou moço
e ali da porta do rancho partiu p'ra revolução,
montando um flor de alazão,o laço preso nos tentos,
o poncho revoando ao vento e a lança firme na mão.

Estava assim recordando, quando lá fora um gemido
lhe fez apurar o ouvido e despertar-lhe a atenção.
E quando ouviu uma mão, naquela hora tão morta,
forcejar de encontro a porta como querendo arrombá-la,
sua visão ficou clara, voltando-lhe a luz e o brilho;
num ímpeto caudilho a porta abriu com vigor
e estarreceu-se de horror ante a figura do filho.

Cambaleante, ensangüentado,
as vestes feitas em frangalhos,
o corpo cheio de talhos dobrado pelo cansaço,
já sem força em nenhum braço, já sem poder ver direito,
e com o meio do peito aberto por um lançaço.

Fitando os olhos do filho o velho ficou calado.
Estarrecido, espantado, vendo-o ali em sua frente.
Então gritou gravemente: - Meu filho, por que voltaste?
Por que?
Por que não tombaste onde tombou nossa gente?
Maldito sejas, covarde, tu já não és mais meu filho!
Não tens o sangue caudilho, não agüentaste o repuxo,
deixaste teus companheiros, fugiste dos entreveros,
tu já não és mais gaúcho!

Então a face do guasca que peleando não tombou,
como um lançaço estampou a ira do coração.
Prostrando-se rudemente, naquele gesto inclemente,
desfalecido no chão, o moço sentindo a morte
roubar-lhe o sopro da vida, com a alma triste e ferida,
ali prostrado no chão, sem rancor no coração
olhou para o pai a seu lado, e já num último brado
fez a brava confissão:

- Meu pai, eu não fui covarde,
honrei meu poncho e minha adaga,
fiquei coberto de chagas mas agüentei o repuxo.
Fui valente, fui gaúcho, peleei com todo o ardor,
e se aqui vim escondido foi p'ra salvar do inimigo
o pavilhão tricolor.

Abrindo a camisa ao peito, tirou em sangue banhado
aquele trapo sagrado que até o fim defendeu,
e beijando-o estendeu ao pai, num último esforço,
e depois, curvando o dorso, o bravo guasca morreu.


domingo, 12 de janeiro de 2014

Momento da Poesia Gaúcha - Orgulho Gaúcho

Leia e comente o que acham desta poesia inédita, em primeira mão.


ORGULHO GAÚCHO



Ao pé do fogo de chão
Floresce a essência guapa
Herdada da gente farrapa
Que lutou por este chão
Defendendo o seu torrão
Das tropas imperiais
Tornaram-se imortais,
Pelo amor a tradição.

  

Hoje em tempos de paz
Essa essência esta presente
Nunca se apagara da mente
O orgulho pelo Rio Grande
Que cada vez mais se expande
Desde o mais velho ao mais novo
Traz a marca de um povo
Que pra sempre se garante

 

Este orgulho que se vê
Na gente de minha terra,
Esta marca não renega
Seja no campo ou na cidade
Não importando a idade
Pois, não existe quem nos mande,
Sou gaúcho, sou Rio grande
Com muita fibra e lealdade
 

Se hoje não vivo no campo
Gaúcho não vou deixar de ser
E enquanto neste chão viver
Manterei vivo o respeito
E com orgulho, encho meu peito
Para ecoar este brado
De um gaúcho farrapo
E isso é meu por direito

  

Vou ensinar meu guri
Ter orgulho de ser gaúcho
E que não precisa de luxo
Pra se tornar um homem descente
Só basta ser índio valente
Pra defender este fato
Sendo chimango ou maragato
Atropelando quem ta na frente.


Já adianto a explicação de tal fato
E te digo não é grossura
E sim apenas bravura
De quem vive a tradição
Que esta fincada neste rincão
E fiz de cerne para o meu braço
Deixando de lado o cansaço
Com o Rio Grande no coração.
Rodrigo Silva