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domingo, 20 de novembro de 2016

Grelhas Castelhanas - Conhecendo um pouco a cultura do Pampa

Buenas gauchada amiga, como todos devem saber, sou um atuante defensor da cultura do pampa sul americano e prezo a preservação e integração da nossa cultura Riograndense com a argentina e uruguaya. (conheça um pouco do pampa).
Hoje vamos charlar um pouquito das grelhas uruguayas e argentinas onde são feitas as parrillas, um típico churrasco de nossos hermanos de cultura y como sou um apreciador de churrasco trago esse instrumento imprescindível para uma boa parrilla.

A grelha nada mais é que dois espetos em paralelo distante uma certa distancia e unidos por ferros, onde em seu interior há outros ferros em paralelo, que podem ser cantoneiras para segurar o suco e o tempero da carne. A mais simples é essa, que já serve para fazer um assado uruguayo de primeira.

Imagem da internet
Há também as mais elaboradas que exigem um pouco mais de investimento, pois são mais sofisticadas e já contam com um sistema de ajuste de altura, pois, para facilitar a lida do assado, elas ficam inclinadas, além do mais, existem modelos que trazem o compartimento para fazer o fogo, e posteriormente o arraste da brasa, pois, a parrilla é feita em brasa, mas, isso é assunto para outro reponte da internet.
Confira o modelo que engloba os mais sofisticados
Imagem da internet
Leia aqui também um pouco sobre o Gaúcho Uruguayo, uma visão do gaúcho pela ótica do povo uruguayo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O Gaúcho Uruguaio

Buenas gauchada, como sabemos há um esforço de entidades para que o gaúcho tenha um perfil e que este perfil seja brasileiro e sabemos que não é verdade, que o gaúcho é uma formação étnica do pampa e transcrevo abaixo um texto da Red Acadêmica Uruguaya, a universidade de la república.
O texto traz a visão dos uruguaios em relação ao gaúcho e cita a fusão das etnias da região do pampa.

O GAÚCHO

O gaúcho é um homem-ginete das Pradarias, não corresponde a um único tipo étnico, é o resultado da miscigenação da região do Rio da Prata, a sua origem está ligada às condições políticas, históricas e econômicas exclusivas de seu ambiente. Pertence igualmente à áreas pastoris da Argentina, sul do Brasil e Uruguai, a área geográfica do gaúcho coincide com uma região natural. Pode-se afirmar com segurança que seu tipo original nasceu na Banda Oriental durante o século XVIII.
A palavra gaúcho vem da palavra quíchua "huachu", que significa órfão ou vagabundo. Os colonizadores espanhóis começaram a longo prazo, a chamá-los de "gaúchos" vagabundos "gauchos". No sul do Brasil usualmente chamado de "Gauderio" ou "gaúcho".

Origem

A praça Montevideo é uma construção exclusivamente militar, projetado para proteger a fazenda contra os avanços dos Portugueses instalados no porto de Colonia. Cercada por muros e fossos, à sombra da artilharia pesada, um regime de quartel governa a vida dos poucos colonos trazidos pela autoridade. A primeira do governo de Buenos Aires foi proibir o comércio de tudo. Isto convém seus interesses. Assim, a nova praça está condenada a uma vida de guarnição, e Buenos Aires continua usufruindo a riqueza pecuária.
O Cabildo de Montevideo, desde o início, em conflito com a arrogância das autoridades militares, em uma carta ao rei, pinta em duas frases o estado social e econômico da praça "a medida que não temos o comércio, ou onde vender os nossos frutos, desfrutar da tranquilidade e interesse desta guarnição presidio nos deixa para eles sobre o bolo que é destinado para o seu apoio, que é feita entre os vizinhos. "
Enquanto isso o contrabando é abundante em todo o país. As partidas de Português e indígenas, para viajar livremente ao país deserto, o pastoreio de gado, couros de pesca e vendê-los em Colônia, nas costas ou fronteiras.
Alguns descendentes de espanhóis e crioulos, se aventuraram no interior implantando estâncias, mas não indo muito longe de Montevidéu. Contrabando é a vida normal da campanha, a forma de comércio que a proibição espanhola le obriga, e para conter e punir a  autoridade de Montevidéu incursiona-se ao interior e estabelece guarnições militares.
Muitos milicianos espanhóis desertam para se juntar aos contrabandistas. Então, eles vão mesclando Espanhol, Português e indígena. Nestas condições, começa a se formar a população rural do Uruguai. A riqueza de gado coloca o país em condições que a natureza oferece o produto em abundância; apenas chegar e agarrá-lo. O trabalho é inútil e o homem vive ocioso e livre, como os ricos da vida civilizada.
A abundância de gado e a ausência de toda a propriedade permite que o morador do Uruguai, no século XVIII, possa viver sem trabalhar. O cavalo dá mobilidade rápida, couro dá mensagem, botas, freios, chapéus, garrafa, cama e habitação. Ele bolea ou laça, carnea uma vaca, leva a melhor peça que é assado na grelha e o resto é deixado abandonado no campo ...
Esta abundância faz com que o fazendeiro hospitaleiro, na cozinha da estância há sempre uma vaca pendurada para que coma quem quiser.
A campanha para o colono é a liberdade, riqueza e aventura como a cidade é a monotonia ea necessidade. Assim é grande o número de espanhóis que abandonam a cidade e se entregam à vida livre.
Mas ao contrário do ócio tropical ... abundância e liberdade nesta região gera hábitos viris, ásperos e sóbrios. Tem que domar cavalos xucros, laçar e bolear o gado, tem que lidar com a faca, precisa aguçar os sentidos e se fazer vaqueano, tem que ser mais esperto e brigar contra a polícia. Pecuária torna o habitante do campo, nativo ou colono, corajoso, lutador ágil forte.
A expulsão dos jesuítas das Missões Orientais, ocorrido em meados do século XVIII, e o êxodo em massa de índios ao sul do país. Aparece a nova população dispersa nos campos e logo muda sua natureza: de mansos agricultores sob a tutela dos Jesuítas, tornam-se corajosos e equestre misturando com Espanhol e Português e tapes ...
Esta mistura de indígenas, Espanhol e Português, na existência livre e brava do território, surge o tipo nacional do gaúcho.

Características

O gaúcho oriental tem características físicas e psicológicas dos pais, em parceria com o ambiente em que nasceu e formou-se. Geralmente é fraco, pálido, de barba, mas há cabelo calvo e reto; e há olhos azuis e pálido, que cobrem toda a gama de miscigenação que vão desde o índio cru ao conquistador Ibero-alemão.
A vida equestre, o consumo de carne, o mau tempo, ventos do Oceano e do Pampa, o cria com corpo magro, forte, ágil e habilidoso. Alguns sustentam cabelo de índio, outros colocar sobre seu cabelo o chapéu, tem o bronze por andar sem camisa, outros são cobertos com camisas ou ponchos; todos usam a bota garrão de potro e Chiripá.
O deserto e as solidão torná-lo mal-humorado e silencioso.
Liberdade e abundância o deixaram orgulhoso, hospitaleiro e leal. A hostilidade permanente à polícia espanhola, e luta com as feras indomáveis, deram coragem, ousadia, e o desprezo pela sua vida e a dos outros ... É costume de morrer sem dor e matar sem remorsos.
Do conquistador recebeu o cavalo e guitarra; do índio, o poncho, o chapéu, o mate e as boleadeiras.
Sua língua é uma mistura de castelhano arcaico do século XVI, com elementos indígenas, que são adicionados mais tarde o Português e africanas; as voltas da linguagem são próprios e é normalmente expressa por imagens. O ditado é a sua maneira típica de resposta.
Seu modo de vida exige uma qualidade primária: coragem. O valor e faz sua adoração suprema e mais vergonha que concebe é ser maula. Desde que não há nenhuma lei em vigor ou juizes, justiça seja feita por sua própria mão ...
Na campanha oriental o gaúcho é geralmente reservado e respeitoso; somente quando bebe algumas bebidas  procura briga. Mas o jogo e as mulheres muitas vezes dão origem a disputas e rivalidades e estas são as causas mais frequentes para duelos...
Outra qualidade que o gaúcho admira muito e dá prestígio é a poesia. Todos gaúcho toca guitarra e canta uma canção; mas payador, cantor espirituoso ou inspirado que anda de pago em pago, com seu violão e se aventura na espada, fazendo rir e chorar as almas ásperas, que ele passa longas horas improvisando coplas ao som de bordoneios no meio de um círculo de atentos espectadores, um aristocrata, festejado por homens, requeridos por mulheres, que são os melhores. Tal é o gaúcho quando ele aparece em cena ...

Fonte (texto original): http://www.rau.edu.uy/uruguay/cultura/gaucho.htm

domingo, 18 de janeiro de 2015

Uma breve charla - Andanças pelo Rio Grande - Parte 2

Buenas indiada, segue nossa sina de andanças pelo Rio Grande e esta é especial de primeira, pois, marcou a primeira vez que meus filhos pisam em solo oriental, pois é, a esticada foi até Rio Branco Uruguay, do outro lado da ponte Mauá.

Partindo de Pinheiro Machado, via BR 293, cuja foto abaixo tem como fundo a Serra das Asperesas, a exatamente 190km, está Jaguarão, que faz fronteira com o Uruguay.

Foto: Rodrigo Silva - BR 293 e a Serra das Asperesas ao fundo
Nesse trajeto registramos as passagens sobre o Rio Piratini, e as cidades de Cerrito e Pedro Osório, ainda também fizemos um costado em Arroio Grande. Notamos que a paisagem segue a mesma, as cidades parecem abandonadas, tristes, enfim, notamos que a nossa zona sul parace que foi deixada de lado mesmo pelos nossos governantes.

Foto: Rodrigo Silva - Ponte do Império, sobre o Rio Piratini na BR293

Foto: Rodrigo Silva - Passagem do trem em Cerrito

Foto: Rodrigo Silva - Ponte sobre o Rio Piratini na divisa Cerrito/Pedro Osório ao fundo ponte do trem

Foto: Rodrigo Silva - Outra do Rio por outro ângulo

Foto: Rodrigo Silva - Chegada em Jaguarão
Foto: Rodrigo Silva - Detalhe da foto acima
Por fim passamos para a banda Oriental, compras, bebidas é claro e "otras cositas más".
Fechamos a viagem com a nostalgia da Ponte Mauá que divide Jaguarão/RS e Rio Branco/Uy.
Excelente passeio e recomendamos.




Confira o inicio das andanças em:
Uma breve charla - Andanças pelo Rio Grande - Parte 1

quarta-feira, 11 de junho de 2014

E começa a Copa do Mundo

Buenas gauchada, que está toda "uriçada" já que amanhã começam as peleias nas trincheiras dos campos de futebol, como, alguns já sabem, eu torço pela celeste uruguaia, mas, vamos levar em consideração que somos sul-americanos, então, vamos apoiar os daqui, Uruguai, primeiramente, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Equador, este último, os gaúchos da capital e arredores tem um carinho especial pela preferência de hospedagem.
Sabemos que tudo isso custará caro ao povo, mas, já que chegou vamos torcer que pelo menos não seja um fracasso total, pois, eu desde o começo, lá em 2007 falei, não adianta vai ficar só na promessa, vi que estava certo.
Tenho a opinião que muitos descordam, que não adianta protestar, se não gostou vai para as ruas depois da copa, e mostra que está descontente com o voto, de que adianta, ir pra rua, prejudicar os outros e quando chega outubro votam no mesmo governador, na mesma presidente, nos mesmos deputados e nos mesmos senadores, acorda povo.
Torço sim, pelo Uruguai, e não é de hoje, veja um post de 2010 AQUI, minha família me critica por isso, mas, é questão de ideologia e de identificação, porém, não quer dizer que automaticamente tenho que ser contra o Brasil, sim, sou separatista, mas, isso é outra coisa. Vou ver os jogos do Brasil, como vou ver todos os que conseguir, se fiz isso quando foi na Africa, Alemanha, Japão/Coréia, e as outras, porque não fazer agora?
Quer protestar tudo bem, mas, vê se não faz burrada em outubro, o futebol não tem culpa de existir políticos corruptos e administradores idiotas que deixam a fifa vir e fazer o que quiser, vamos celebrar a festa mundial do futebol e brigar depois.

Por favor, se for opinar, opine, não xingue ninguém que tenha uma opinião diferente, vamos também celebrar a democracia e o respeito aqui neste campo aberto que se cham internet.

domingo, 29 de setembro de 2013

Da cidade! O discurso do Mujica

Hoje trago o discurso completo de José Mujica, presidente do Uruguai, que mostrou para o mundo os valores de um dos raros políticos verdadeiros. Ele já vinha se destacando por sua política de governo e agora confirmou. Um política que primeiro faz e depois fala. Leia abaixo:

Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata, meu país é uma planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia foi inventada no Uruguai.
Durante quase 50 anos, o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim de mudanças funestas, e ficamos estancados, sentindo falta do passado.
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — porque, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com nostalgia.
Quem tivera a força de quando éramos capazes de abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da América Latina pátria de todos que está se formando.
Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferências e discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes.
O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver.
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.
Todavia, as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de essas tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso código genético.
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso planetário para desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras. Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões...
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para enriquecer; com eles, com os homens de ciência da mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a fonte. Essa ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência ao comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
Obviamente, não somos tão iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos "reclamáveis", que vão plantear um comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez, crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir contra sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. E temos contribuído para sua construção sem nos dar conta.
Por que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos seguir anotando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
Nossa época é portentosamente revolucionária como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos condução simplesmente instintiva. Muito menos, todavia, condução política organizada, porque nem se quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se acumularam.
A cobiça, tão negativa e tão motor da história, essa que impulsionou o progresso material técnico e científico, que fez o que é nossa época e nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo nebuloso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar nos transformando.
Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de que é um conquistador antropológico.
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior da espécie. Aclaremos: o que é "tudo", essa palavra simples, menos opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em suas direções adotam um viver diário que exclui, que se distância do homem da rua.
Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os gobernos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.
A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra cuando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
Este processo, do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também, esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma inocência neste mundo plantear que há recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da América Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem, enquanto viver em clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.
Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos afogam.
Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem como se não houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.
Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos na causa profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso "nós".
Obrigado.