Luiz Carlos Borges foi um dos maiores representantes da música gaúcha missioneira, com uma trajetória que uniu fronteiras, festivais e discos e teve uma vida inteira dedicada ao acordeon e à cultura do sul. Nascido em 25 de março de 1953, em Vila Seca, distrito de Santo Ângelo, nas Missões do Rio Grande do Sul, cresceu em meio às influências musicais da região e desde guri foi envolvido pela sonoridade do chamamé, das rádios de fronteira e dos bailes de campanha. Aos sete anos começou a estudar música e aos nove já tocava gaita nos bailes com o grupo familiar Irmãos Borges, com quem gravou os três primeiros LPs ainda na juventude. Essa fase inicial de estrada, fandangos e rádio forjou o músico que depois se destacaria no cenário nativista em festivais e circuitos culturais dentro e fora do estado.
Com o tempo, Luiz Carlos Borges passou dos bailes familiares para os festivais e para a composição. O grande ponto de virada ocorreu quando venceu a Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana em 1979 com a música “Tropa de Osso”, que marcou o início da sua carreira solo e do seu primeiro disco individual em 1980.
Formou-se em Música pela Universidade Federal de Santa Maria e também assumiu funções na área cultural em São Borja, Santa Maria e Santa Rosa. Foi em Santa Rosa que idealizou e organizou o Musicanto Sul-Americano de Nativismo a partir de 1983, criando um dos maiores espaços de integração musical entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai dentro do universo tradicionalista e missioneiro.
Ao longo da carreira, Luiz Carlos Borges lançou mais de 30 discos entre LPs, CDs e DVDs. Dos trabalhos com os Irmãos Borges nos anos 1970 às parcerias internacionais nas décadas seguintes, construiu uma discografia ampla e respeitada. Entre os álbuns individuais estão:
Tropa de Osso (1981)
Noites, Penas e Guitarra (1982)
Quarteada (1984)
Solo Livre (1986)
Fronteras Abiertas com Antonio Tarragó Ros (1991)
Gaúcho Rider com o Grupo Alma (1992)
Geraldo Flach & Luiz Carlos Borges com Geraldo Flach (1992)
Na Chama do Chamamé (1993)
Hay Chamamé (1995)
Gaúcho com Edison Campagna (1995)
Temperando (1996)
Campeiros com Mauro Ferreira (1999)
Luiz Carlos Borges (1999)
Do Pampa ao Pantanal (2001)
40 Anos de Música (2002)
Luiz Carlos Borges & Quarteto (2004)
Buenaço (2008)
Itinerário de Rosa (2008)
Con Amigos Argentinos (2010).
Em 2014 lançou também o DVD “50 Anos de Música – Ao Vivo”, premiado no Prêmio Açorianos e registrado com participações especiais.
Durante a carreira também teve coletâneas como Sucessos de Ouro (1994), Acervo Gaúcho (1998) e 40 Anos de Glória (2003), todas incrementando o acervo das gravações missioneiras e chamameceras que ajudou a popularizar.
Sua ligação com o chamamé foi decisiva para a integração musical do Cone Sul. Atuou ao lado de grandes nomes argentinos como Antonio Tarragó Ros, Rudi e Nini Flores e participou de encontros com artistas de peso do folclore latino-americano, inclusive dividindo palco com Mercedes Sosa, Juan Falú e Geraldo Flach. Com Mercedes Sosa gravou uma música em seu último trabalho o albúm Cantora
Representou o Brasil no Festival Nacional del Folklore de Cosquín em Córdoba, na Argentina, nas edições de 1984 e 1998. Se apresentou nos Estados Unidos em 1986 no International Festival of Folklore em Salt Lake City, esteve na Semana Regional do Folclore na Guiana Francesa em 1988 e fez turnês em países europeus como França, Alemanha e Áustria. Participou também da Fiesta Nacional del Chamamé em Corrientes, consolidando-se como uma referência do gênero para o público latino.
Ao longo de décadas, foi presença constante e premiada em festivais nativistas, vencendo como compositor, intérprete, instrumentista e arranjador. Recebeu mais de uma centena de premiações, distinções e indicações, incluindo vários Prêmios Açorianos de Música em Porto Alegre, sendo eles:
1998 - Foi indicado para Disco de Música Regional e Instrumentista de Teclado
2008 - Foi premiado como Compositor de Música Regional e Arranjador (com Leandro Rodrigues)
2011 - Ganhou menção especial pelos 50 anos de carreira
2014 - Venceu como Compositor de Música Regional, Intérprete de Música Regional, Instrumentista de Música Regional, DVD do ano e melhor álbum de música regional com o disco 50 Anos de Música. Além destas premiações diversas entidades culturais e prefeituras lhe prestaram homenagens ao longo da vida e após seu falecimento.
Seu estilo era marcado pela fusão da milonga, vaneira, polca e chamamé com a identidade missioneira da fronteira oeste gaúcha. A gaita ponto e sua interpretação forte e sensível levaram a música do sul a novos países e a novos públicos. Para além dos palcos, Borges contribuiu com a organização cultural, especialmente com o Musicanto, que se tornou um palco de integração latino-americana. Seu compromisso com a tradição não impediu o diálogo com outros ritmos e artistas, o que tornou sua obra diversa e autêntica.
Luiz Carlos Borges faleceu em 10 de maio de 2023, aos 70 anos, em Porto Alegre, deixando um legado respeitado no Brasil, Argentina e Paraguai. É lembrado como embaixador missioneiro do chamamé, acordeonista de alma fronteiriça e figura central na construção da identidade musical do sul do país ao longo de mais de cinco décadas de carreira. Sua obra continua circulando em regravações, projetos de memória, coletivos musicais e publicações culturais.
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