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sexta-feira, 26 de maio de 2023

A mesa está vazia

 Quando criança sempre tive gosto pelo futebol e isso se manifestava de diversas maneiras, como por exemplo, praticando de fato o esporte, assistindo pela televisão ou ao vivo no ginásio municipal, conversando sobre futebol e por fim jogando futebol de mesa.

As boas lembranças do futebol mesa vem quando lembramos dos "clássicos" a tarde e seus confrontos aguerridos com o time que na maioria das vezes não era o mesmo do coração, pois, para quem não sabe o tipo do jogador faz grande diferença nos confrontos, na tática e no estilo de jogo. Lembro dos campeonatos com jogos de ida e volta, sim ida e volta, ás vezes no mesmo dia já que cada um levava seu "estádio embaixo do braço e com a sua peculiaridade de quem tem a habilidade de jogar em casa e passar dias chuvosos treinando para o próximo confronto com o vizinho da frente ou da quadra de trás.

Nos dias de campeonato, a turma reunida em 3 ou mais amigos, de joelhos no chão sem a preocupação de se machucar ou sentir a temida dor nas costas. Alguns amigos tinham as mesas xalingo que nos moldes atuais seriam as modernas arenas de hoje, compradas na loja com o placar sendo marcado por uma seta vermelha e suas linhas perfeitamente pintadas por máquinas na indústria do brinquedo.

Mas, também haviam os caldeirões, os temidos estádios com suas peculiaridades e os que me marcaram foram dois, do meu amigo e vizinho que virou compadre com muito gosto, o Juliano que tinha uma mesa feita de compensado, com ripas embaixo ficando uns 3 centímetros do chão que a aparência era para trazer o conforto ao jogador e não era, ela tinha uma emenda e as rifas ajudavam a segurar. A emenda era o diferencial que ao apoiar o peso tinha diferença de altura e o botão batia e voltava sem tocar na bola e entregar a posse para o adversário. Além disso, tinham as goleiras artesanais feita de madeira e rede e era um diferencial e a pintura colorida feita a mão.

Já o meu estádio era simplesmente uma porta de guarda roupa, com uns 60cm de largura e quase 2 metros de comprimento, feita de mdp e retirada de um guarda roupa que estava se desmanchando, eu passado os fins de semana chuvosos treinando os chutes de longe e calibrando a mão, já que os demais jogavam em campo curto, eu me acostumava com a lonjura. Pintada a mão e torta, faltando canto foi assim que as atividades futebolísticas eram realizadas na minha casa.

Com o tempo e as crianças crescidas, a adolescência chegou e as mesas ficaram vazias, por muito tempo escoradas em um quartinho dos fundos que todo mundo tem em casa, os administradores dos "estádios" se dispersaram, cada qual com seu rumo, os times trocaram de donos que não deram o devido valor e com isso a mesa ainda está vazia.

A mesa está vazia, os estádios possivelmente viraram lenha, os times desfalcados e seus donos em outros objetivos, flagelando lembrança de pais e vizinhos que por muito tempo agoniam as distâncias e a saudade que sentem destas algazarras que se silenciaram com o passar do tempo.